A humildade é o tendão de aquiles do sucesso.

- Alguma vez voltou a tocar no metro só para ver, para fazer uma comparação e ver como olham agora para si?
- Vou dar-lhe um exemplo para a pergunta que me colocou... Presumo que tenha uma ex-mulher... Imagine que lhe digo: que tal voltar para a sua ex-mulher, estar com ela, amá-la e estar perto dela? Passa-se o mesmo comigo. Tocar no metro, na rua, é o meu passado. Foi duro, foi difícil e às vezes foi muito bom e divertido, mas acho que não quero voltar a esse sítio, que me fez sentir que devia desistir de tudo. Foi uma boa experiência e quero deixá-la assim. 


Estava sentada no sofá quando ouvi a pergunta, achei-a brutal no bom sentido, mas no segundo a seguir já estava a achá-la de uma brutalidade tremenda. Colocar esta questão assim a quem de peito feito eu sabia que ia responder. Pior. A resposta seria dada muito calmamente, por quem lacera, mesmo sabendo cortar. Dei por mim a encolher-me no sofá nos acordes da resposta. O Benjamim Clementine começou onde ninguém quer começar, de uma família fragmentada fez-se homem, porque segundo ele - a música salvou-o. Teve sorte? Acho que não. Teve mérito, muito. Lembrei-me, dias depois, ao volante, do Cristiano Ronaldo. Hoje, para mim o melhor do mundo, nem imagino como será para ele lembrar-se de noites mal dormidas, a desejar o colo da mãe, a distância dos seus, as saudades, quando ou se sentia desamparado, ou sozinho ou até quando gozavam com ele do sotaque da Madeira. Teve sorte? Acho que não. Teve mérito, muito. Alpinista, a caminhada do sucesso é a meu ver, a mais vertiginosa viagem de sempre, mas manter a humildade é sem dúvida alguma o tendão de aquiles do sucesso.  As alegrias da vida fazem de nós deuses, as dores mantém-nos severamente humanos. Na minha infância também tive um momento doloroso, triste, complicado, mesmo de m&%da, que me fez sentir que devia desistir de tudo. Sei que esse acontecimento também fez de mim o que sou hoje, mas também eu não quero voltar ao metro, também não quero voltar à minha infância, só para comparar se o antes e o depois originam o mesmo fim. Talvez derive daí a minha boa fortuna por não ser saudosista. Cada coisa tem o seu tempo, tudo tem um fim. O melhor, mas também mais difícil, é saber desfrutar. Mas também sei, que comparando-me com estes dois, também tive a sorte de ter a fibra que tenho, de ter a cabecinha onde a tenho e de não me deixar ir a baixo ou tombar na valeta. Nos dois casos, eu tive a sorte do segundo, a minha família a quem se deve o meu mérito, sempre. É aqui que se distingue o trigo do joio.

E eu quero acreditar - sempre e todos os dias - que sou trigo.  

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