Avó Maria Floripes.
Quando o tic-tac do dia-a-dia se faz notar, algo se passa! Será o motor de arranque? Será a angústia dos sonhos? E o tempo vai engolindo as sombras e os restos que luz inebriante faz sentir. Como dói sentir a saudade de quem já partiu. Confundem-me sempre contigo. Ainda ontem à noite assim foi e toda a noite eu segredei-te a estória ao ouvido. Que angústia não te ter conhecido com o tempo a meu favor, mas tudo me roubam e tu não foste excepção. Tenho saudades do pão com manteiga que nunca me chegaste a fazer e das noites que dormi contigo, sem me lembrar do teu cheiro. Eras quentinha avó? Avó, como é ter o meu pai ao teu colo? Ele era o teu preferido? Ele sente tanto a tua falta, que ele nem nenhum dos teus filhos me consegue falar de ti... Avó, como te apaixonaste pelo avô Manuel se mal me lembro da voz dele? Como foi criar 6 filhos sem perder o sorriso? Como te sentiste quando me viste pela primeira vez? Nem conheceste a Carla e a Beatriz! E bonitas que ela são... Avó, como é estar aí em cima a olhar por mim, por todos? O tio Jorge diz que gosta de olhar para mim, porque te vê nos meus olhos, no meu sorriso, no meu corpo e no meu andar. E sinto-me bem com isso, aliás, fico estupidamente feliz ao saber disso, mas dói não me lembrar de ti, não ter memórias tuas e provocá-las sem eu querer nos outros. Eles ficam felizes com isso, comigo a lembrarem-lhes de ti, mas fui eu quem te perdeu, fui eu que fiquei por ouvir as tuas estórias, fui eu que te neguei o colo quando a chorar me quiseste pegar e é essa a única memória nossa que guardo. E é com isso que vivo, isso e a tua imagem reflectida no espelho quando para ele olho... Avó, quando chegar a minha hora e eu partir, por favor está lá para me receber, assim recuperamos o tempo perdido!
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