O meu desencanto pela vida.
Cedo aprendi que o dinheiro não traz felicidade, mas ajuda e ajuda imenso. Quem tem dinheiro, chega mais rápido, tudo alcança muito mais rápido. Estava a meses de terminar a faculdade, sem qualquer emprego no horizonte, aquele nervosismo da eminência do fim começava a surgir quando um colega me dirige a célebre frase: "Quem o tem, é quem o joga!" numa conversa sobre um futuro emprego ou ficar na faculdade a tirar uma pós-graduação, ou até como monitor. E infelizmente, tive de concordar com ele, sem grandes argumentos no momento, mas para mim, talvez nesta rebeldia que trago sempre comigo, mantive-me fiel à minha suposição de que ele estaria errado. Que o carácter ainda é o que mais importa, que ainda ganha ao dinheiro, mesmo que seja em menor frequência, mas ganha.
Apercebi-me, que uma vida feliz, não é uma existência sempre feliz. Que são poucos os que conseguem ser optimistas, arregaçar as mangas e esperar pouco da vida. Esforçando-me a triplicar na proporção do que anseio, a vida fica mais fácil, mais leve e mais feliz. O que não é sinónimo de querer pouco. É trabalhar muito mais do que o tempo em que estamos sentados à espera seja do que for.
Que há muita coisa que nos acontece na vida, sem razão aparente, sem justificação possível, mas que acontecendo é preciso força e sabedoria para lhe fazermos frente e continuar, mesmo não sabendo que direção tomar, é preciso ir. São poucos os que o conseguem. São ainda menos os que o fazem com alguma sanidade mental mantendo o carinho aos seus e à vida em seu redor.
Que nada é, como foi idealizado. O que não significa que seja obrigatoriamente para pior. Que a moda é circular, que adereços e roupas pavorosas que usei em 94-98 vão voltar a preços surreais e haverá sempre quem os comprará. Que artigos de luxo a custarem alguns zeros à direita serão fabricados por mãos infantis no Camboja, Vietname, Índia e que alguns desses eu irei adquirir.
Que vivo numa fase em que o mundo radicaliza num extremismo dominante à direita, ao espreitar lá atrás na história (não muito distante, infelizmente), também esta tende a repetir-se e o resultado nunca foi bom. Que há quem tudo faça para ter o homólogo nome gravado na história intemporal, mesmo que seja do pior, ainda assim o faça.
Que trabalhamos demais, para melhor qualidade de vida darmos com quem estamos a menos. Que são mais horas fora de casa, do que dentro das casas onde habitam os nossos. Que no rodopio do dia-a-dia muito fica por fazer, que viajar é raro, mas que se for com a qualidade devida, é muito bom. Contrariando sempre quem diz "Já não é nada mau."
Que talvez seja bom poupar, quiçá até um PPR ter, sem a certeza que chegaremos ao dia em que o iremos gastar. Afinal, alguém tem alguma certeza na vida, exceto que vai morrer? E é na incerteza de tudo que a magia acontece e essa é a mais bonita de se ver.
Doido é quem ri, sabendo que vai morrer?
Não.
Doido é quem não ri, sabendo que vai morrer.
E o meu desencanto pela vida não é necessariamente algo mau, é encantar-me com momentos e pessoas e com esses seguir em frente, onde a vida nos levar.
E o meu desencanto pela vida não é necessariamente algo mau, é encantar-me com momentos e pessoas e com esses seguir em frente, onde a vida nos levar.
Comentários