Uma cega na varanda.
De que serve uma paisagem se não pode ser apreciada?
A cega perguntava.
Eu não soube o que lhe responder.
Ela quando me olha nos olhos, preciso, por vezes, desviar o olhar. Ela via, mais do que muitos que sabem as cores com que me visto. Disse-me anos depois que pelo tom de voz na minha primeira palavra, eu sem querer, contava-lhe tudo. Que a minha luz é imensa.
Que ela vê o branco no som dos meus sorrisos, que o azul está no som do meu desabafo e que o vermelho lhe incende o rosto quando lhe falo do André.
Mas é o preto que lhe invade o olhar, quando a tristeza que lhe fala por mim.
Como vê as cores, se não sabe a ordem no arco-iris?
O tempo é curto, sempre curto. Eu embarco nas palavras que me proferem, como os barcos nas ondas do mar, como um músico escorre numa pauta, eu tal como eles deixo-me ir naquilo que os outros me revelam, sou como a espuma que desliza na onda.
Eu sinto, eu vou. Uma mãe será mãe, sem o saber ser.
Já sei de que serve a paisagem!
É para enganar o cansaço. Há quem se canse de sofrer, eu cansei-me de ver quem a vida estragava.
No dia em que ele morreu, pedi a Deus que me cegasse.
Desde esse dia que só vejo nos meus olhos o rosto dele.
Só variam as cores, essa depende sempre de quem me fala.
E eu que cores mais lhe dou?
Menina, não queira saber tudo... Aproveite, viva e fale-me sempre da paisagem!
Só depois percebi a metáfora à vida.
A vida serve para ser apreciada.
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