A Lady Gaga percebeu muito cedo

que quem fala com dificuldade do que sente, à minima crítica (com ou sem grande sentido) não muda o seu pensar, simplesmente cala-se. E é isto. Simples. O isolamento a escorrer no verdadeiro significado da palavra. 
Lembro-me de há uns anos numa actividade escutista um jovem do mais introvertido que consigam imaginar, estava a tentar expor os seu medos e receios (ainda hoje acho que sem grande sentido, é certo), mas na vez de o deixarmos falar e apoiar, ouvi um dos chefes dizer: 
- "E pá... Ó (não interessa o nome), não me venhas com essas merdas a estas horas, pá! Guarda isso para amanhã de manhã!"
Eu ri-me, todos se riram, porque quem assistiu lembrar-se-á do contexto em que tudo ocorreu, todos continuam vivos, amigos e de boa saúde, mas a verdade é que o jovem (que defini como não interessa o nome) quando conseguiu albergar coragem para falar, nós não o apoiámos. Ele, num enorme sacrifício tentou abrir a boca para falar, perdendo a voz logo a seguir. 
É quase como se fosse uma repartição das finanças, ele estava a segurar a senha para ter a sua vez e nós, basicamente dissemos-lhe que a repartição não chegou a abrir, para já estar fechada para obras. Como um semáforo que intermitentemente em laranja, fica sempre vermelho!  
Não sofro com este problema, mas penso bastante nas coisas e este acontecimento marcou-me pelos piores motivos (vergonha alheia), dias mais tarde. Porque naquele dia, àquela hora também eu me ri.  E, confesso, não voltei a conhecer ninguém assim. Tão fechado. Mas quem me conhece bem, sabe que falo do que me incomoda e que tenho tido uma opinião audível sobre inúmeros assuntos que me rodeiam, mas confesso que quando me começam a dar a entender de que o que eu falo ou falei assemelha-se a uma repetição de programa na RTP Memória, antes rebatia e agora começo a calar-me. 
E julgo que isto seja um exercício precocemente repetido pelos mais inseguros e introvertidos, que dentro do seu silêncio vão passando os dias, a um típico exercício de quem envelhece. Vamos guardando para nós palavras e discursos, na repartição da memória. Uns traídos pela força de vontade que teima em desaparecer, outros já esgotados de guerras passadas, mas a par disto surge a célebre frase de W. Shakespeare "É melhor ser rei do seu silêncio, do que escravo das suas palavras." E, agora levanto eu a questão: e os que sobrevivem na escravatura do seu silêncio?
Quando o silêncio surge, as barreiras elevam-se, o distanciamento começa a surgir. E vão longe, vagueiam no deserto, sempre sozinhos (mesmo no meio da multidão) e muitas vezes sem sair do sofá.
Aos que percebem inglês, se derem uma espreitadela na letra de "I was born this way" entenderão facilmente o que digo. Um música que este ano comemora 8 anos de existência. Mas penso que a letra estará sempre atual. E lá pelo meio tem tiragens assim:

"A minha mãe disse-me quando eu era pequenina, que todos nós nascemos super-estrelas."

"Não tem nada de errado em aceitar-se tal como é, porque minha querida, ELE fez-te perfeita!"

"Não importa se és gay, eterno ou bisexual; lésbica ou transexual.
Não importa se és negro, branco ou amarelo.
Não importa se és latino ou oriental
Nasceste para viver, nasceste para ter coragem
Nasceste perfeito, tal como és."

Eu acho que ela sofreu imenso, mas estoicamente encontrou forma de consertar a sua bússola. Teve sorte? Fez por isso? Não domino os pormenores da sua história, mas parece-me apaziguada. Contudo, deixo aqui a minha deixa: a todos os que ainda andam perdidos, lembrem-se de que mesmo quem domina o GPS, uma ou outra vez, ora fica sem sinal, ora fica sem bateria...

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