Afonso, o bastardo.

A Alice não sabia que ele era assim, que tocava violão como ela assobiava as canções do Arnaldo Antunes e quando deu por ela, já estava mais que apaixonada por ele. Carlos sabia que ela não estava só naquela paixão, mas porque raio (pensava ele) com 35 anos e era o maior malandrão daquele bairro onde há um ano morava com a mãe, os outros 34 foram habitados com a mãe noutro bairro, desde que viuvou, Maria do Céu quis sair das 4 paredes que sempre a fizeram feliz, faltava-lhe o mais importante, o seu amor, Afonso. Afonso era um filho bastardo (que nome tão feio para um homem com tão bom coração!) que por morte do irmão real que não era bastardo, mas de besta tinha tudo, fez com que a história se escrevesse pelas linhas outrora bem desenhadas. E arrastado com a doença do pai e com os bens mais que muitos, e que nunca anunciaram escassear, assim Carlos se tornou famoso, por tocar no bar da esquina da casa "O Soslaio" belo com o corpo moreno, cabelo louro, olhos verdes, voz rouca e malandro. As mulheres bem tentavam, mas ele sempre olhou para elas com desdém. Ele não deu pelo que aconteceu quando se viram de raspão, mas sim, ele estava apaixonado. Eu bem o avisei, que não podia dar certo, sem emprego e sem trabalho, como podia ele estar mais enrascado? Porque mulher não gosta de homem assim. E assim foi como é em qualquer paixão, a mergulhar é de cabeça e a sair é com um bom bate pés. Mas mais veloz e mais esperto que o Carlos, rondava pela praças nas noites quentes do Outubro saturno, que com a vergonha do que via na frente dele, a Alice tão bela e branca como a luz da lua numa noite de céu estrelado, nefasta pela ausência do Carlos que com a rotina escarnada na pele repleta de melanina, aproveitou-se da dor da Alice e afagou-lhe o rosto, bebeu-lhe as lágrimas, abraçou-a perdidamente e tirou-lhe o calor. Ai Alice, que mal fizeste tu para teres um tão pequeno coração partido, que sem querer já o tinha partido em dois. Carlos voltou sem o João ter ido embora, como dói apaixonar-se pela primeira vez e saber que foi trocado. Mas como se pode trocar algo que nunca se teve? Ninguém é de ninguém, Carlos não prometeu voltar e Alice nem no melhor sonho o viu aproximar. Como é ingrato darmos o coração a quem não sabe cuidar do seu. Os anos passaram, Carlos mora no Brasil há 5 anos, os mesmos em que deixou de viver com a mãe, saiu de raspão com medo que as preces da mãe não o deixarem ir, mas ele não imaginava que ela chorasse de felicidade quando leu o bilhete dele "Finalmente meu filho voou!" disse suspirando. Carlos conheceu no Brasil a grandiosa felicidade de um amor verdadeiro. Foi atrás da Alice que morava na Rua Prudente de Morais, em Ipanema, no início só sabia isto, mas lá conseguiu chegar. Terá radar o coração? Alice passou 3 meses cá em Portugal num estágio numa empresa de calçado português Helsar onde era design de interiores e estava a projectar as lojas que abrirão no Rio de Janeiro, Carlos tornou-se sócio da marca lusitana e como qualquer Europeu ocidental sem problemas assim o fez, mas só a encontrou 1 ano depois, não sabia se o devia fazer e 12 meses passaram. Alice estava grávida, mas a estante o escondia e quando a viu de novo, mas mais parecia uma primeira vez, será ela? Alice virou-se e com ela os olhos negros como duas grande azeitonas. Silêncio. Passou-se uma eternidade e depois ela consegui falar. Muito falaram e falam desde esse dia. Alice saiu de Portugal sem mais nada falar com Carlos e nunca mais nada disse a João que inventou que tinha passado várias noite com ela desde que Carlos tinha viajado e todos sabemos as línguas aguçadas que só nos pequenos bairros existem... O que espera chama-se Afonso, o mesmo nome do avô. Como é belo encontrar o amor e nunca mais o perder de vista...

NOTA: história de encantar baseada em sentimentos reais.

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