Maria Inês

Lembro-me de estar deitada à beira mar, num dia de pachorrento de verão, ouvir risinhos lá ao fundo embalados no rebentamento das ondas orientadas pela luz da lua nova, quando de repente uma sombrinha num dia de sol majestoso a encher um céu azul sem ponta de nuvens fez-me abrir os olhos e eu vi-te pela primeira vez. Eras muito pequenina, caminhavas com passinhos curtos, mas decididos, tinhas a pele muito branca e uns olhinhos azuis brilhantes como se o céu começasse nos teus olhos, umas pestanas enormes e um sorriso brando, calorento e o teu olhar enchia-me o coração de ternura que me fazia lembrar alguém. Sorrias para mim enquanto eu te piscava os olhos e dizias-me baixinho "Ola dorminhoca..." e eu estremunhada nada disse. Olhei-te e segui-te quando te começaste a afastar e a fazer-me sinal para te seguir, não esperei duas vezes, segui-te. O teu cabelinho era castanho clarinho, tinhas uma franjinha que te sobressaía o cor-de-rosa das bochechas, um laço verdinho bailava sobre o teu lado direito do rosto e o teu vestido branco em bordado inglês mostrava os teus ombros bronzeadinhos do sol e fazia-me lembrar o meu preferido quando tinha, julgo eu, a tua idade. Querias brincar com as conchas à beira-mar, querias rodopiar de braços dados comigos, encher o meu cabelo solto com estrelas-do-mar, flores e peixinhos como o Nemo e a Glória. Eu queria envolver o teu cabelo em sonhos felizes e nunca mais sair do teu lado. Queria proteger-te de tudo o que te assustasse, mas tu não tinhas medo de nada. Sorrias a tudo e a todos, desarmavas o mais durão dos durões com o teu levantar da sobrancelha direita e dormias como eu acho que os anjos dormem. E quando finalmente me consegui despreender  do teu encanto questionei-te: "Onde está a tua mamã?" Ao que sorriste e num sussuro e na voz mais doce que alguma vez ouvi enquanto punhas o meu cabelo atrás da minha orelha: "Estou a olhar para ela..."

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