Eu entendo-o mas não concordo.

Há uns tempos ouvi uma certa opinião que me fez pensar ao ponto de passar bons tempos a matutar nela e até de trazer até aqui esse mesmo assunto.. O capitão P, formação militar portanto, dizia que não percebia o que a C, médica, tinha visto no sobrinho F, que é carpinteiro e estão ambos agora casados. Ou seja, que relação é possível existir entre uma médica e um carpinteiro? Assim como que relação entre um médico e uma mulher-a-dias? Qual seria o ponto de encontro da relação, qual seria o fio condutor da relação. Quais seriam as conversas? O que diria o F quando a C dissesse Queratite intersticial? O que diria a mulher-a-dias quando o médico referisse Leucoplasia?

Agora vai a bomba da estória toda, o capitão P é casado com a senhora L, uma dona de casa.

Portanto, eu entendo-o, mas não concordo. Porque há aqui um príncipio muito errado. O P, L, F e C não são as profissões que desempenham, são pessoas com uma determinada e designada profissão. São um sorriso, são um feitio, são um pouco de tudo que em certas e determinadas horas desempenham uma função reconhecida pela sociedade. O tal aspecto que o fez apaixonar-se pela senhora L, que é a esposa, mas a tal não posição social correspondente a ele , de certo modo submissa no entender dele, que o faz ler livros sobre quase tudo e naovez de conversar com a esposa, que não liga ao assunto, procura as netas ou até a mim mesma para conversar. Sim, eu entendo.
Mas não podemos reduzir a pessoa ao seu "status". Confesso que fiquei a pensar qual seria a ideia do capitão P em relação aos pontos de união entre duas pessoas. Até um professor de matemática casado com uma professora de filosofia tem um pau de dois bicos. Ele pode amar o jeito clássico dela e ela detestar o lado pragmático dele porque é em demasia. E será que falam do Aristóteles saber a tabuada dos 8 melhor que a dos 3?? Ainda chegam a casa e falam é de filmes, séries, do quanto gostam um do outro, das saudades que tiveram um do outro... Não sei se me consigo explicar, eu entendo-o mas não concordo. Percebi a argumentação dele, até demasiado clara, quiçá não se lamentasse ele das suas horas solitárias, quando pode ser ele que se distancia da esposa e possívelmente projectava-se no sobrinho. Mas confesso que por momentos não consegui descortinar se o problema dele era o sobrinho ser o carpinteiro e não o médico.
Rezumir isto aqui, não fica nem perto do que sinto, cá dentro fica sempre mais forte, mais meu. Eu já pensei e re-pensei e vou continuar a pensar e é muito complicado e extremamente desagradável. Não quero aparentar uma romântica que não sou, mas se vou ser médica dentista, vou ter de medir o meu QI e procurar alguém com valor igual ou superior? Então e se encontrar e essa pessoa quiser com QI igual e o meu for inferior?? Acho que as coisas não são assim, nem se resolvem por aqui... O coração é o aceledador e a cabeça o travão, sempre foi assim e assim vai continuar a ser...

Comentários

Postagens mais visitadas