A minha manhã surreal, ao bom estilo de Patrícia (Nuno) Markl.

Ora bem, quem como eu é ouvinte das Manhãs da Comercial, já sabe que o Nuno Markl tem histórias não do arcaico arco da velha, mas ao bom estilo do arco do triunfo, tal é a magnitude dos acontecimentos. Pois bem, o que me aconteceu hoje podia igualmente ter-lhe acontecido e quando o ele decidisse partilhar tamanho infortúnio com o resto da humanidade, eu iria escangalhar-me a rir quando ouvisse a irrisória aventura, eventualmente, de mãos dadas com o volante. Mas uma das mais nobres virtudes, a meu ver, é sabermos rirmo-nos de nós próprios, e eu sofro deste grande mal de me rir muito sobre o que me acontece (após ter acontecido, pois aquando das situações ao vivo, a minha vontade é de desatar a chorar e desejar estar ao colo da minha querida mãe, bem protegida como sempre).
Para quem vive em Coimbra, sabe bem o dilúvio desta noite e, como a manhã acordou soalheira revelando o pavimento seco. Lá vou eu virada à faculdade, para mais uma reunião de trabalhos académicos, de óculos escuros, sem guarda-chuva e de bota de salto alto, porque sabe sempre bem arranjarmo-nos um bocadinho pela manhã. Até aqui tudo bem, passou-se boa parte da manhã e quando estava para sair do departamento, 12h35 apercebo-me da tempestade exterior e de como esgalhava! "Olha que bom, o chapéu de chuva suplente está no carro!" pensei eu no preciso momento que a janela da biblioteca me devolve o furioso olhar. Duas opções: esperar que melhore o tempo (alínea a) ou tentar gamar um chapéu de chuva (alínea b). 
Claramente a alínea b).
Aí vou eu ter com a D. Celeste :"D. Celeste, não há por aí um chapéu perdido que me possa emprestadar?" A resposta que tive foi que podia, mas teria de devolver porque o dono pode surgir a qualquer momento e reclamar o que é seu por direito. "Ok, na próxima quarta tem-no cá!" E saí toda contente da vida, lá ia eu quando deparo com o meu orientador "Patrícia, estou a ver que tens chapéu, das-me boleia?"  Mal ele sabe...
O resto é fácil de imaginar, um pequeno guarda-chuva a abrigar dois num temporal rumo aos carros, mais malas de portátil ao ombro e ambos de braço dado como era possível no momento. Em abono da verdade ele chegou mais seco do que molhado ao carro, fiz sinal a informar que o meu carro estava mais acima. Ele seguiu a restante curta distância a correr. Estava?
"Onde é que eu tenho o meu carro?" Chove ainda mais.
"ONDE ESTÁ O MEU CARRO?"
"Rebocaram-me o carro??" E chove mais e mais.
"Mas porquê rebocar? Não é suposto primeiro porem aquela coisa amarela no pneu?" Olho para o relógio de pulso, 12h48, tenho de estar às 15h na Nazaré. Chove granizo e já estou encharcada até aos joelhos.
"Calma, os securitas devem saber se o carro foi rebocado!" Primeiro, deixa-me dar uma volta maior a ver se vejo o carro.
"FO*****! Eu deixei-o aqui! ROUBARAM-ME O CARRO!" Já estou encharcada até às coxas, a camisa está colada ao corpo, caraças... tenho o portátil à chuva e a minha vida lá dentro inanimada.
"Tenho de ir ter com os seguranças" Caminho agora a passo apressado por umas quedas de água que imitam cascatas nos degraus das escadas de acesso. Parto o salto alto da bota esquerda.
"Eiiii que C******!" (não vou repetir a quantidade de asneiredo que proferi, mas que são libertadores em casos emergentes, isso são!).
Chego à porta de entrada, dez pessoas lá dentro a olhar para mim por causa do dilúvio e eu náufraga ali no meio do oceano sem areia a indicar a ilha. Expliquei o sucedido, o segurança refere que nenhum carro foi rebocado, que ele teria sido notificado, pede-me para acalmar-me, para esperar porque chove IMENSO e ele ajudará a procurar o carro, mas da forma como chove não pode deixar o posto. Digo-lhe que agradeço, mas não tenho tempo, peço para me guardar a mala e o portátil que eu vou encontrar o filho da mãe do carro.
Lá vou eu no meio do diluvio de chapéu de chuva aberto nem sei porquê, se já estou toda molhadinha! Neste momento, tenho as calças encharcadas até às virilhas, que rápida a água é até no subir, mas no alto da minha restante dignidade (ao pé-coxinho) parto na aventura de encontrar o meu carro.
Mais duas voltas ao quarteirão e encontro o cabrão no mesmo sítio onde o deixei. Na primeira vez que me esqueço onde deixei o carro, tal é a molha que apanho! Ligo o carro, apanho os meus pertences e recebo a resposta do segurança "Isso é tudo stress, está sempre a acontecer!" Meu amigo, stress? Isto é estupidez! Respondi mantendo o silêncio na boca, berrava na alma. Vejo as horas: 13h05.
Sigo virada a casa, já sinto o banco do carro a encharcar e o cabelo escorre, como as caleiras transbordam dos telhados quando aos soluços gritam excesso de carga.
À porta de casa, outro lago transbordante "Fácil!" pensei eu, "Molhada por molhada cá vou eu!" de novo ao pé-coxinho.
Entro em casa e nova molha, desta vez no banho.
Chego ao quarto para trocar de roupa: desânimo total - tenho parte do quarto encharcado porque uma janela ficou aberta!
QUE P*** DE SORTE!!!

Moral da história: uma máquina de roupa, umas botas para arranjar (?), um quarto para secar, ainda bem que ontem comprei um frango de churrasco no continente, ao menos tenho o almoço feito - olho para as horas 13h27. Antes de sair de casa, pego num saco de lixo de 40l para colocar debaixo da peida, tendo em conta que o banco está como eu estava há meia hora atrás.

PS: Não vou contar o temporal que apanhei na A1 e na A8, há 4 anos que faço estas viagens e hoje foi a pior de todas, sempre em quatro piscas na faixa do meio e mais não digo porque pode parecer invenção.

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