Em cada regresso de férias, a minha caligrafia muda.

Não sei se é o bronze que pesa na mão, se a preguiça ficou colada a quem nada escreveu, se é natural em mim. Mas tal como a caligrafia muda, também eu gostava de seguir em frente, mudada, por cada periodo de ausência, um bocadinho diferente - para melhor.
Desapegar do supérfluo.
Fluir, rumo à leveza do ser. 
Mas sou antagónica, trago em mim uma forte alegria em viver, quase sempre de sorriso aberto, de mão dada a uma solidão que não me assusta, só traduzida no som do teclado dedilhado. Ligo a música, deixo de a ouvir (e de me sentir) e ouço apenas as teclas debaixo dos meus dedos. E não tenho mãos a medir, só dedos muito compridos. E é nesta solidão que mato as saudades que tenho de mim mesma. Quando sozinha, deixo de me sentir e voo. Um dia partirei, só eu e a mochila. Sem dúvida, voltarei muito diferente. Mais em paz. Afinal, nos nossos sonhos, não é regra geral existir a nossa outra metade. Afinal, o melhor bolo é aquele que já foi fatiado e parcialmente comido, não o que ficou por encetar. Há tantas luas, que uma delas será calcada na sua primeira vez por uma mulher, até lá, sonho até plutão.
E na arte do desapego, acabamos sempre por nos apegar mais e mais a nós mesmos. Contraditório, como quase tudo, mas verdadeiro.

Vou, deixo-me ficar, mas acabo sempre...

por voltar. 

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