O meu avô teve um enfarte.

Preciso de mais tempo, afinal precisamos todos. 
O meu avô teve um enfarte.
Penso em cada risada, cada abraço, sinto a efemeridade da vida. 
Ainda não foste e sei que não vais a lado nenhum. 
Mas o meu tapete, pode ser a tua casca de banana. 
Tu cais, eu caio. 
Penso também nas vezes em que insisto em dizer que gosto de ti e no "Eu também." proferido numa voz embargada que ouço no retorno. 
Sei que o digo várias vezes, mas mesmo o vários em prol do anos, pouco significará. 
Mas enquanto vivos,  fazemos assim por defeito. Antes ficar algo por dizer, do que muito por viver. 
Preciso de mais tempo, afinal precisamos todos. 
O meu avô teve um enfarte.
Logo ele que me ensinou a brincar, que tanta merenda partilhou comigo,
que me ensinou a ver a beleza do Carnaval.
E sei que nada é para sempre, sei que a nossa hora ainda não chegou.
Mas a saudade do que não viveremos juntos já existe. 
Eu sei, tu sabes, todos nós sabemos.
Ainda não percebi bem porque me foi dado a sorte de poder amar, se um dia tudo o que amo ser-me-á roubado. 
Mas enquanto eu viver, serás memória, serás inspiração. 
Serás vida através de mim e dos meus descendentes, 
Se tiver a sorte de os ter, pois também eles ter-te-ão no sangue. 
Mas faz um braço de ferro, com a avó do meu mais que tudo e com qualidade de vida, iguala ou ultrapassa os seus 97. Assim ainda teremos mais 20 anos e o prometido bisneto ainda irás conhecer. 
Não te esqueças, eu caso em maio. Luta!
Preciso de mais tempo,
O meu segundo pai teve um enfarte.
E isso mata-me por dentro. 

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