A vida numa folha.

A metáfora da vida é uma folha de papel.
Em branco.
Simples. 
Começamos numa singela folha em branco, imaculada. Decidimos assim que nos apercebemos de quem somos - como queremos preencher a folha em questão. Começar logo com aprumadas linhas em réguas afiladas ou não ter de todo linhas? Passear à larga na folha, por vezes em abstracto ou sempre com uma bússola para não perder de vista as margens?
Cada um decide, consciente, mas nem sempre. 
Vivemos alguns anos com a folha a ser preenchida com cores, numa paleta harmoniosa ou ausente desta (há quem insista no preto e branco, de livre vontade é certo) e a folha vai-se preenchendo. 
Mas todos, infelizmente em alguns é cedo demais, descobrem os momentos de perda e o dano que estes provocam em nós são simplesmente irreversíveis.  
Para mim, de cada vez que há uma perda, a nossa folha é violentamente amarrotada, ficamos mais pequenos (aliás, sempre o fomos) mas a noção da nossa pequenez sobe à flor da pele, no longo arrepio que nos envolve nos momentos de dor. 

E como conseguimos seguir caminho, logo depois? 
Sem nos apercebermos ainda bem do que se passou, a folha começa a desenrolar-se, esticando-se, pelos cantos, bem devagar até ficar novamente estendida. Mas os vincos (os verdadeiros) estão lá.


O certo e sabido é que a folha volta ao que era, mantém em si a sua identidade, mas imaculada como antes? Nunca mais. E vamos tentando colorindo o que já se fez menos bonito, endireitando linhas que se apagaram e estabelecendo novos elos, novas pontes que esperamos que não caiam entre nós. Seguimos mais sós, mais doridos, com imensas cicatrizes, mas seguimos e por vezes em labirinto sem sebes nem indicações, o caminho começa a parecer-nos óbvio.
Como somos feitos de papel, não esquecer, temos a capacidade de voar, basta sentir o sabor do vento.
E para isso, basta acreditar.
Acreditar e lutar, nem sempre queremos ir na direção que o vento teima em soprar. 

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