Há um novo tipo de vaidade (e grave).

Quem vagueia pela internet e que tenha uma perspectiva minimamente mordaz quer seja em sites, revistas ou jornais deparar-se-á com a nova (?) vaga de vaidade que é grave e preocupante em dois parâmetros:
1) há quem se orgulhe do que não deve;
2) porque vende e vende bem.
A dos próprios quererem contar a sua história de vida, que acaba sempre por ter uma grande tragédia à mistura, algumas delas bastante macabras e como orgulhosamente as contam. Não dá para negar. Atenção que sou totalmente apologista do direito à liberdade de cada um, daí também sentir que posso opinar. E, antes de continuar e de poderem chover pedras para o meu lado (não sou parva, embora o dê a entender a algumas alminhas), eu sou também uma contadora de histórias e serei sempre a favor do silêncio que se faz para se poder ouvir uma boa história. Mas o que me entristece é quando a narrativa sai da boca do actor principal em que orgulhosamente conta o que de pior lhe aconteceu, como quando andou (e ainda anda) moribundo e como ainda hoje lhe é difícil erguer a vida que desmoronou em seu redor. E no pouco ou nada que faz para o contrariar. 
No facebook lê-se nas caixas de comentários de revistas e até de algumas pessoas ligadas ao meio do entretenimento algo deste género "Minha querida... Por favor lê a minha história de vida, vê o meu email de Janeiro! Vais gostar do que vais ler!" E adivinhem? Lá dou uma espreitadela no resto da página e essa pessoa já narrou o que de mais triste e penoso existe, repetiu-se mais à frente e penso: então mas escrevem aqui isto e assinam com foto ao lado, em que toda a gente lê? E ainda rematam o assunto com beijinhos no fim?!
E vivem de medalhas de comiseração e incapacidade ao peito. São as/os coitadinhos da sua própria incapacidade social e infelizmente são quase sempre progenitores. O que me assusta verdadeiramente. Que exemplos seguem os mais novos? Os primeiros que aprendem e imitam, quem os rodeia no dia-a-dia, os pais. 
Não tenho lido (talvez vagueie nos sítios errados e a aleatoriedade da vida às vezes assemelha-se ao totoloto: sai o 43, 45, 39, 47 e 48) histórias de quem singrou na vida, chegou, viu e venceu! Não bem nesta ordem, pois há muita cabeçada lá pelo meio, que ninguém na vida é inteiramente feliz e ninguém dá todos os passos acertados, mas porventura a quem a vida teima em correr melhor, se calhar não anda a perder tempo a contar como conseguiu ultrapassar as adversidades, deve andar ocupado a resolver o que de momento lhe corre menos bem. 
E eu às vezes também tenho diarreias literárias, porque também escrevo estes textos, mas sem direito  ou vontade de receber medalhas. Acreditem, foi só um desabafo, pensava que no século 21 as mentalidades estariam mais à frente! Bem mais à frente. 

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