O indulgente.

Demorei a apaixonar-me por ti, bem o sabes. Já eu te tinha bem amarrado na minha teia, sem o saber - é certo, mas eu demorei. Demoro sempre, acho que é a única circunstância na vida em que me atraso propositadamente.
Tenho medo das cabeçadas, a sério. Tinha. Já me tinham dado a entender que gostavam de mim e quando ia para abrir a boca, a namorada já era outra. 
Não te achei graça alguma assim que te vi, nem nos dias seguintes. Parecias-me um mero rapaz franzino, albino com olhos azuis, mas demasiado claros. Inclusive, só te vi com cor de pele decente meses mais tarde, quando foste com amigos de férias para o campismo. Honestamente, só me despertaste algum interesse quando conversámos. Tenho bem presente quando te olhei nos olhos pela primeira vez e conversámos. O que não deixa de ser curioso, agora que penso nisso. Queríamos o mesmo para o futuro, mas a ambos o presente dado, foi outro. E ainda bem. Cheguei a pensar que num acto genuíno de amor, não tentaste medicina com algum receio que entrasses e eu não. Já o negaste e acho que o vais negar sempre. Ou serei eu que relembre o passado com luz ténue de apaixonada? A verdade é que não preenchias os meus requisitos na totalidade no ficheiro de namorado, que eu mentalmente tinha elaborado para mim. A fasquia estava alta, mas estava falaciosa. Achava eu que o que queria, era exactamente igual ao que eu precisava. Vagarosamente e com muita persistência da tua parte, mostraste-me que estava enganada. Pensando mais calmamente sobre como o conseguiste é fácil agora reconhecer que foste sempre tu, igual a ti mesmo, a tentar levar a tua a avante. E conseguiste. 
O bom disto tudo é que ainda somos como antes, ainda queremos o mesmo para o futuro, seguir no mesmo caminho, de braço dado. 
Não gostas de jogar ao jogo de dizer as três coisas que mais gostas em mim, dizes sempre o mesmo sem nada dizer e quase que foges porta fora do nosso T1 quando me lembro da charada do costume, mas nunca o disse e já lá vão 11 anos e 5 meses o que mais gosto em ti é a tua capacidade de perdoar. Tudo fica mais ténue, mais leve, deixas ir. Fazes a tua reflexão, pesas rapidamente os prós e os contras e na tua indulgência perdoas mesmo. Eu não sou assim, tu sabes, sabemos até que o teu perdão devolveu-me a esperança na vida a dois que hoje temos e é bonito reconhecer que mudei para melhor, graças a ti.
Mas não te esqueças, não és nenhum santo e nem o queres ser, ias perder a (pouca) graça que tens. AHAH AHAH AAHAH

Comentários

Postagens mais visitadas