É só fachada.

As fachadas dos prédios fazem-me refletir. 
Penso no que ocultam, no que nos querem gritar aos ouvidos quando impávidos passamos por eles e apercebemo-nos da sua existência, quando alegam ou obras de re-qualificação ou demolição. 
E há três tipos:

1) As fachadas que serão francamente melhoradas. 
Há um período de acne acentuado que ressalta ao olhar pela montagem dos andaimes, que com maior ou menor delonga, tem um final previsto e assinado no alvará. Até pode atrasar  sucessivamente a re-abertura, mas mais dia/menos dia, a estreia chegará! Com maior ou menor derrapagem orçamental, há certamente um final à vista e o interior está, na maioria dos casos, em sintonia com o exterior. Muitas vezes, após requalificação, o interior até sobressai e dá vontade de repetir a visita e quiçá adquirir uma pequena área residencial, se o fascínio e a qualidade perdurar, tal como a periferia e vizinhança  de prédios em redor, chamemos-lhe por agora e em jeito de metáfora: família. 

2) As fachadas estão ocas e não serão melhoradas.
Aqui abunda a maior quantidade, infelizmente, quiçá ainda reflexo da crise (de valores) que vivemos. A fachada de outrora completa com o restante edifício, surge em mate, deslavada e sem qualquer esplendor. Algumas vezes escondidas timidamente por um painel que retrata em pintura a majestosa fachada de antigamente. Há notícias de que as obras serão iniciadas em breve, melhorias serão concretizadas, mas um dia lá longe no futuro, a fachada acabará por findar numa derrocada, o interior oco não se conseguirá sustentar e a derrocada terá em alguns casos dia e hora marcada, não havendo a mínima e consciente noção de que a qualquer momento alguma tragédia acontecerá. Um dia mais tarde, olha-se para trás e lemos os sinais que antes não soubemos interpretar. Leia-se falhanço. 

3) Fachadas ao abandono. 
Há uma fachada, existiu um arquitecto, um construtor e um proprietário e agora não existe ninguém, muito menos a própria fachada. Há um vazio, um revirar do rosto de quem na vizinhança perdura, e deseja que aquele triste prédio desapareça ou seja restituído para não manchar a paisagem de antigamente, imaculada. Leia-se negligência.  

Estes tipos de fachadas que enumero acima são os jovens de hoje em dia, que com uma vida social riquíssima e um intelectual paupérrimo, parecem pequenos adultos lá bem do alto das suas fachadas, quando na realidade nem boa argamassa o sabem ser.
O cérebro precisa de estímulos, senão atrofia como um mísero músculo. E, ao estimularmos o nosso cérebro (com a mesma vontade e sucesso com que as pitas posam à frente de uma câmara fotográfica ou de um vulgar telemóvel) conseguiremos argumentar numa boa conversa.

Mas uma boa conversa, são muito poucos os que ainda sabem o que é, atualmente é tudo instantâneo e já só espero que passe, porque em instantâneo, nem puré nem mousse de chocolate... 

Comentários

Postagens mais visitadas