Textos bonitos de quem tem um belo par de cornos a enfeitar a testa.

Há dias li um texto de uma neta que se queixava à avó que o marido a traía e a avó na alegoria de cenouras, café e ovos em água a ferver, pergunta à neta quem era ela, metaforicamente indicando os legumes e a cafeína. A suposta resposta acertada era o café (com o tempo melhora, a cenoura amolece e o ovo coze), a neta devia persistia na vida do encornanço e lá está a velha máxima "Se Deus quisesse" ela conseguiria fazer com que o homem se deixasse daquilo e persistindo naquela vida a felicidade acabaria por a encontrar, possivelmente já velhinha, viúva e o marido a existir apenas em fotografias emolduradas e repletas de pó, porque memórias com ele por perto eram muito poucas. Ele sempre fora ausente da cama de casal. Possivelmente estou a descontextualizar, em curtas frases, mas li o texto todo e percebi muito bem o ponto de vista. 
Aqui a questão que se coloca é que o que a avó viveu, a bom porto conseguiu chegar - percebia-se na entoação do seu discurso, mas não tem obrigatoriamente de o desejar e fazer a neta passar pelo mesmo. Até devia desejar à neta melhor fortúnio. Imaginemos que há 50 anos, a minha avó sabia que passeava na rua com uns belos cornos de enfeite, possivelmente, a minha avó teria continuado a vida ao lado do meu avô, mas a mulher (esperando que o meu avô não fosse gay) que se metesse com o meu avô na melhor das hipóteses levava um belo par de estalos e uma ou outra humilhação na praça pública, bem o sei. Ela não é de se deixar ficar, nem eu. 
Mas a questão que aqui coloco é a mesma do outro texto - sei que são meras opiniões com as quais nos identificamos, ou não. O que me chocou, foram as partilhas do mesmo texto em pleno século XXI. Se eu chegasse ao pé da minha avó lamentando a minha tristeza pelo par de cornos que habitaria a minha testa, a minha avó possivelmente colocaria à minha frente uma panela, uma enxada e um carro de mão. Ferveria água para me fazer um chá, enquanto eu chorava a soluçar sem fim e dir-me-ia:

"Escolhe, como queres que lhe dê um sumiço?
Neta minha não chora por garotos que pensam ser homens!"

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