Dobrar a dor.

Andava eu entretida a pensar como se dobrava a dor. Se a contornava, como uma rotunda, sem contar a cedência de passagem à direita, se a ultrapassava, como um atleta de barreiras, se a atirava ao chão como uma toalha em sinal de derrota! Reagi e pouco depois tracei um plano. A dor deve ser engolida, mesmo a custo, com muito cuspo, assim se chama à saliva dos mais rijos, sem deslaçar o nó da garganta, vai a medo, vai mesmo a sangue frio, mas vai. O tempo, esse clássico e malvado cliché faz o resto. Atenua, amolece quem enrijece e deixa sorrir quem tamanho feito, outrora não se permitira. 
Mas, estando eu entrelaçada nos meus pensamentos, chegou uma amiga bem conhecida de todos nós e lixou-me. Chama-se Dúvida e todos certamente já ouviram falar nela. 
Perguntou-me que certezas tinha eu do que acabara de imaginar. Eu afirmei confiante que não tinha nenhuma! E a sacana insistiu: 
"E se eu a triplicar?"
Respondi-lhe sem medo.
"Para ti será sempre uma questão de semântica, para mim uma questão de perspectiva! E eu, eu já a aprendi a dobrar. "

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