Narcisismo poético.

Desde muito cedo que senti que a imagem que passava, e possivelmente ainda passo, é que sou narcisista. A verdade é que sempre quis ser a melhor, sempre gostei de atingir o patamar da melhor, sempre me conheci assim. Mas, sempre competi comigo mesma, com os outros, é uma competição muito secundária, saudável sim, mas comigo mesma nem sempre assim é, porque (inconscientemente?) obrigo-me a ir mais além!
Em tudo o que faço (seja pouco ou muito) eu quero ser a melhor. E mais, eu adoro ser assim. Não tenho vergonha alguma de o dizer, muito menos faço pressão de o esconder. Detesto perder, seja no que for. Detesto.
Se for a analisar profundamente a questão, deparo-me que o facto de eu ser assim só me tem ajudado a evoluir para melhor, nada mais a acrescentar. Se assim, não fosse, não teria nem metade do que hoje possuo. Admiro profundamente, quem como eu tem ambição, mas não tolero pessoas ambiciosas. Para mim, no primeiro grupo, estão os que querem ser a cada dia que passa, pessoas melhores do que no dia anterior, segundo as regras impostas pelo bom-senso na sociedade actual. Eu aplaudo imenso as superações humanas. São aliás o que mais me emociona! Seja, em que área for! No último grupo, vem o homem do saco. E, com ele, todos aqueles que fazem de tudo para atingir um objetivo. Mediante a educação que tive, felizmente não sou assim. Desengane-se quem me classifica neste patamar. Tenho sabido esconder decotes, engolir muita coisa!!!, manter as cuecas no sítio e quem estuda por onde eu passei, poderá entender o que sinto em relação a falsos pudores.
Continuando.
Eu vejo as coisas neste prisma: adorava que existissem mais pessoas como eu! O mundo seria um melhor sítio para viver. Vejamos, se se dedicassem a ser excelentes em tudo o que fazem, sem dúvida que seríamos bons e muito bons no que fazemos. Eu respeito imenso quem se esforça diariamente! E, nem sempre assim o é. Há quem se preocupe mais em ser amante, do que manter o próprio trabalho, há quem se dê ao trabalho de inventar histórias para ascender na carreira, quando só lhes faltam competências. Há, sei lá, uma trapalhada de gente que não distingue a louvores de folhas de louro. Há também, quem não ambicione quase nada na vida e tudo o que seja morno já lhes chega. Nos meus dias de grande cansaço, desejo sempre ser mais deste tipo. Passa-me logo em 10 minutos. 
Voltando um pouco atrás, não têm de me invejar, nem de criticar como fui alvo de muita coisa na adolescência, tudo o que fiz (e faço) não foi (não é) exclusivo, aqui posso referir as notas e de me chamarem marrona. A escala é universal, 0-20, todos podemos ter as mesmas notas, basta trabalhar e alcançar. Agora, se só pudesse haver um 18, um 20, aí tudo entendido, mas não: estava tudo ao nosso dispor, só os mais audazes é que conquistam. E o tempo é quem revela quem é audaz, tal como os interesseiros. Qual a boa nova? Com o tempo, os audazes serão mais e melhores, os interesseiros, serão menos, mas também eles melhores. E, assim se vai vivendo, entre as extremas qualidades e os terríveis defeitos.
Cá em casa, há alguns dias numa conversa ele dizia-me que eu tinha que ser melhor que toda a gente, mas para me acalmar que o mundo não gira à minha volta. Ele não entende, muitos não entendem. Quando se quer ser a melhor, não se quer obrigatoriamente ser a maior! Não preciso de popularidade, não preciso de aplausos, de vénias, o facto de querer ser a melhor em muita coisa sei-o porque quero atingir um certo resultado. Seja a satisfação dos meus doentes, elogiarem-me na saída, voltarem, trazerem a família, dizerem-me muito obrigado, às vezes presenteiam-me com um miminho (que também não preciso e sabem-no!), cumprimentarem-me na rua, baixar 3segundos numa corrida de 10km, ter mais uma medalha de corrida no armário, tanta coisa. Eu quero ser, (saudavelmente?), melhor do que eu era ontem e tenho que me pressionar a ser mais e melhor. E há mais, eu gosto de ser muito boa no que faço, eu quero ser a melhor em tudo o que faço, mas não quero saber fazer tudo!!! Há coisas para as quais, estou simplesmente a marimbar-me! Eu gosto de fazer coisas que poucos fazem e aqui entro no meu maior desafio. Muito poucos têm o que eu tenho. E aqui é como a velha história. Fala-se melhor com o pobrezinho que nada tem, do que com o pobre que hoje tudo tem, vê-se mais facilmente um homem a ser morto a tiro ou com uma catana na tv, do que imagens de pessoas a fazerem amor. E em muito do que tenho, deve-se apenas (e exclusivamente a mim e aos meus) porque não estou de braços cruzados na maioria das vezes. Só perdi as vezes que desisti e até hoje ainda não atirei a toalha ao tapete - uma única vez. 

Este texto pode parecer narcisista, mas a beleza da apreciação, será que quem o considerar como tal, ainda não sentiu o verdadeiro sabor de uma grande vitória. Esse sentimento só se descreve em poesia. E eu não sou poeta. 

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