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Tenho cíumes.
De quem te toca, de quem te faz sorrir, de quem te provoca emoções. Sim, porque nunca te provoquei nada além de contrações. Como provocar a indiferença? É redundante. 
Diz quem se lembra, que a barriga te crescia, como cresce a lua, numa reposição da normalidade, mês após mês, vestias roupas consoante o tempo, não no seguimento do crescimento abdominal. E assim foi. Expulsaste-me e quiseste certificar-te que tinha duas pernas e dois braços saudáveis para me entregares ao mundo, afinal entregaste-me mesmo no fundo da rua na casa de acolhimento de bebes com progenitoras, mas sem mães. E assim conhecia a Irmã Júlia. A quem aprendi a amar como se deve amar uma mãe. 
Não posso negar, desejo-te tudo do melhor deste mundo, afinal não me fizeste mal nenhum, apenas engravidaste de uma violação (grande besta, o teu tio!!!) e não me viste nunca como um filho. Não posso sequer culpar-te de nada. Ainda bem que o mataram. Mas acredita, é para mim uma verdade crua saber que ao olhares-me nos olhos não sentes nada além de indiferença, que o meu cheiro não te é familiar, que o meu toque não te arrepia, que não segues os meus passos e as perguntas que imagino que me farás não terão voz, só existem nos meus sonhos.
E fico aqui a imaginar outra vida, povoada de abraços, perguntas, medos e preocupações, em que tu és a minha mãe, eu seria muito mais parecido contigo e não a cara dele. Mas volto ao mesmo, à minha profunda tristeza, desejo-te sempre o melhor das poucas vezes que me vês, eu vejo-te sempre, nem que ao longe, mas mesmo que olhes ao pormenor, não passo de preto em sombra. 
Casaste, tiveste filhos - eles chamam-me de irmão, até com vaidade, mas tu não me chamas de filho. Repetes abraços, distribuis amor, multiplicas afectos, dizem que és muito boa mãe e eu acredito sempre - até pelo que se vê do teu melhor, na doçura do teu olhar, mas sei que sou eu quem te lembra o que possivelmente, todos os dias queres esquecer. Tinhas 13 anos, a infância foi-te roubada e o destino deu-me a vida, mas roubou-me uma mãe, enfim. Talvez, venha daí a minha tendência a labirintos: quero, vou e... de repente, perdi o norte, não sei quem sou e muito menos o que quero. 

Quero-te a ti, sempre quis. 

Mas estas palavras não sobem a garganta, apenas apertam o nó.   

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