Apresento-vos a Laura...

Já era para vos falar da Laura há muitos dias, mas mesmo assim, algo me fez declinar e recear apresentar-vos alguém que só eu conheço. Num belo dia de sol de Inverno, daqueles que mal existem hoje em dia, que nos aquece a alma e mal nos toca no corpo surgiu-me na consciência com um breve e doce sorriso de quem não quer ser tímida, mas inevitavelmente, não deixa de o ser... Apareceu-me vestida de calças pretas bem justas e de salto alto preto de agulha, mas de cinta para cima estava envolvida com um casaco destes da moda, típico da Mango (acho eu...), de gola bem alta e revirada para fora, bem cintado na cinta, de um verde bastante vivo, daqueles que eu não vestia por nada, ainda me confundiam com um tapete de grama daqueles sintécticos que é preciso aproximarmo-nos para termos a certeza se é verdadeiro ou não. Pois bem, os cabelos castanhos claros pelos ombros e uns olhos verdes que faziam-me refazer o que tinha pensado sobre o casaco, porque casava lindamente com o brilho do seu olhar... Mas porquê tanto receio de falar da Laura? Porque a Laura é me especial. É me especialmente querida, simpática mas acima de tudo é me estranhamente familiar na solidão que acarreta e que sem querer reparte por todos que conhece. Amou muito nos seus 28 anos o seu primeiro e único namorado. Daqueles amores sinceros, de carinho enorme, de amor mais que muito e daqueles que quando se olha é impossível não sorrir, porque é lindo de morrer ver o que muita gente procura no mundo, um amor como o deles. Pois bem, namoram já há 13 anos e o casamento está marcado para o dia 14 de Fevereiro porque se é conhecído por ser o dia de namorados, eu atrevo-me a dizer que para mim esse dia era o dia deles... E mais, confesso, que o amor da Laura e do Fausto, era mais que belo, era único. Mas o tempo foi o único inimigo deles. Não é usual as leucemias serem tão fulminantes, num estracto etário como o do Fausto, mas muito sinceramente, a gravidez da Laura, sendo difícil no final, foi a maior alegria que o Fausto pôde ter. Não viveu a gravidez no sentido de que mal iria ver e conhecer o bebé, viveu-a sim, com a alegria de quem tem um filho, perguntanto minuto a minuto, como a Laura se sentia, se já sentia o bebé a mescer, se não... Mas a vida do Fausto não foi passada em consultas externas, ou em internamento, teve felizmente o que muitos desejam... Uma vida plena com apenas 5 indisposições, das quais a 5ª foi a mais forte, mas a última, nos seus 4 anos de doença conhecida. O que acontece foi que a Laura não perdeu o seu ainda namorado pela doença nem o seu filho de 3 semanas porque teria herdado a doença do pai, o que aconteceu foi que quem bebe não deve conduzir, e quem é camionista quando está cansado deve dormir e descansar. Mas já não lhe chegava o cansaço, teve que também beber, e o sinal que estava bem vermelho, ou o víu verde ou nem sequer o víu, foi em frente... O papá e o bebé nem tempo tiveram, nem recção tiveram, porque nem eles o viram e se o sentiram, só Deus o sabe... Conclusão, qual terá sido a maior dor da Laura? Saber que faleceram da forma como foi? Saber que foi a 3 dias do casamento? Ou saber que o maldito condutor do camião era o avô paterno do João? Mas a Laura não fala e eu nada pergunto, pede-me se não me importo de passear com ela, porque sozinha não se sente bem, mas a mim não me custa nada ter a companhia da Laura, não me custa vê-la a chorar, doi-me no peito mas ela sabe que a entendo, porque sei que faz-lhe muito bem, custa-me sim, sentir que a vida é tão injusta e tão ingrata, quando tudo o que aqui escrevo parece ficção... Mas a grande diferença é que num filme tudo faz sentido e na realidade não...

Este ano a Laura passa o Natal comigo e com os meus primos, sei que ainda não conseguiu voltar a casa desde o acidente, mas acho que cada pessoa tem seu tempo, assim como cada coração tem o seu tempo e que é diferente de pessoa, para pessoa. Sei que se sente sozinha, mas só nao está, porque eu não a deixo!


Maria Inês in
"Memórias nunca esquecidas de uma adolescência ainda por viver."

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