Os meus pais.
Há pouco tempo atrás li nos agradecimentos da tese da minha melhor amiga uma homenagem consciente aos pais sintetizada na seguinte frase que passo a citar: "Sei que adiaram muitos sonhos vossos para que eu pudesse seguir o meu, e isso jamais algum dia serei capaz de retribuir." E a minha Marta pensa como eu e revejo-me imenso nela, talvez daí nunca, mas nunca nos termos chateado. E tal como ela, também eu tenho pais assim. Porém, aquilo que sinto é igual à Marta, mas as minhas palavras são diferentes, não têm o sotaque do Norte. Os meus pais, tais como os da Marta adiam diariamente os seus sonhos para nos verem a concretizar os nossos. Posso escrever sem presunção alguma, que eu tirei o Mestrado Integrado em Medicina Dentária e a Marta está a terminar o seu em Medicina. E, sem vaidade alguma, posso indiciar que somos boas filhas, mas eles são melhores pais. Eles abdicam de ter para dar, quando nós queremos mais e mais. Uma ambição saudável, mas não deixamos de ser ambiciosos. Diz a minha mãe várias vezes que eu sou a sua razão de viver, eu sei que até hoje eles permitem-me viver, sonhar e melhor que isso, eles possibilitam-me ter certezas de que realizarei os meus sonhos. Não são só o meu porto de abrigo que me orgulho ter, como são também o banco de bens materiais onde vou a correr envergonhadamente pedir um adiantamento, que facilmente me é cedido sem pedir nada em troca. Dão de braços abertos, mas pedisse, mas davam. Uma vez ouvi uma mãe dizer sabiamente que sabia perfeitamente que as suas filhas eram as suas piores inimigas, pois para ambas serem verdadeiramente felizes ela faria o que fosse preciso. Não sei que amor é este, eu não sou mãe, mas como é eles conseguem fazer tudo pelo nosso bem estar, eu não sei. Juro! Agora que tento não depender deles financeiramente, em que tanto me esforço todos os meses por fazer mais e melhor, eles engolem as dificuldades, fintam as adversidades e presenteiam-me com amor. Será este o amor de pais para filhos?! Aquele amor desenfreado que dá a sua vida em troca de um amor maior? É que a meu ver, eu enquanto filha, vejo com parcial incapacidade e total resignação que os sonhos dos meus pais continuam por realizar. Há viagens por fazer, sítios por conhecer, muitos desses onde já estive com dinheiro que não era meu, mas sim deles. Se eu tenho vergonha? Não, porque nunca lhes exigi nada, mas eles nunca desgrudaram de mim como por vezes a minha sombra o faz, contudo eles sabem que quando eu puder, serei eu o Aladino deles, até lá serei sempre eu a fazer pesar a balança. Sei que momentaneamente eles pensam: mas quando é que a rapariga se endireita sozinha?! Mas passa logo, eu conheço-os tão bem como eles a mim, quer dizer, eles conhecem-me melhor! Eu também penso nisso, mas sei também que quando estiver equilibrada por mim mesma, eles vão pressionar para eu me desequilibrar, afinal os seus maiores sonhos é ver os meus tornarem-se realidade. Como é que eu o sei? Porque todos os dias eles fazem questão de mo dizerem...
Comentários