A quem amei e não me quis.

Já gostei de quem não gostasse de mim, já fui desejada sem querer, mas, lamentavelmente, já gostei de quem adorasse que eu gostasse dele e em troca, adorava fazer-me sofrer. 
Por causa de ti, passei noites a fio, lacrimejantes, por não me sentir boa o suficiente - não no sentido físico da questão mas, a bem ver, também - insónias terriveis, indecisão em mudar (mas mudar o quê?). Pensei no cabelo, em jogar futebol como ela, em negar as idas ao cinema como a outra, sei lá,  que exemplos parvos devo lembrar? Não quero. Resumindo, desejei ser menos eu. Não para agradar, mas sim porque me fizeste ver que era melhor mudar. Achei que esse era o caminho. Estupida. Talvez por sentir que não preenchia todos os requisitos, por achar que os meus defeitos eram mais marcantes que as minhas tênues virtudes, porque o que tinha (tenho?) não era "enough".
Pouco depois percebi, que os nossos encontros eram de décimo terceiro grau, todo o azar caminhava lado a lado comigo, porque só tu, enraizavas as minhas incertezas, na ausência de qualquer vontade de me ajudares a combatê-las. Demorei muito a prever que eras uma folha de papel amassada e já nada te trazia de volta à forma original. Mas assim que o percebi, vi que as margens não estavam formatadas, que o texto não dava para justificar, que eras o erro que o word teimava em sublinhar sem substituto algum indicar. Sugestões?
Projetaste as tuas desilusões em mim, roubaste o meu profundo sono, deixando como pista as terríveis insónias que gabavas já não ter. Conseguiste culpar-me por entrar na Faculdade que não te quis, vivi a faculdade como não a soubeste ter, escrevi o meu futuro em curtos passos, a correr espalhaste-te e quase me levavas ao tapete. Outra vez. Abri a pestana a tempo, tu não vês nada há duas dezenas de anos.
A mim já me incomodou o que sofrias, hoje incomoda-me - profundamente - o que sofri por ti, porque os erros não foram meus - mas tive de os corrigir - as tuas promessas inquebráveis não me foram feitas, eu chorei por ser a alínea b) na minha própria opção.
Lamentei toda a tua tristeza, bem sabes que provocaste a minha, talvez fosse eu a tua boneca alfinetada mas, digo te já, há muito anos que tudo se evaporou. 

Obrigada. 

Hoje sou mais eu, tenho os meus sonhos intermináveis. Sei quem sou (e bem!) o que tenho de melhor e pior (coincidindo ou não com a lua nova de cada mês), sei com o que posso contar, sei melhor o que posso dar, sempre sobrando algo para me impressionar. Eu não sei tudo, calma, que graça teria tudo saber?
Mas aprendi algumas coisas graças a ti. Não o nego.
Recuso a projectar as minhas falhas assinando-as com outro nome, não permito que me queiram mudar - só porque sim, não admito sequer ser a alegada criminosa quando todos meus os álibis se comprovam over and over again. Fizeste com que me conhecesse melhor, mas honestamente, ninguém merece passar pelo que passei. Ninguém merece que um merdas desfeito incapacite um puzzle de ser terminado. Para quê esconder a última peça, ela vai acabar por aparecer. Aparece sempre. Para mim, és um grande filho da puta que insiste em abrir nos outros as feridas que em ti não saram. Mas, meu querido, as cicatrizes já há muito passaram de moda. Há até uma uma nova tendência, tatuar por cima. Sabes o que fiz meu cabrão? Como a cicatriz era grande, por cima tatuei FELICIDADE em letras bem grandes. E obriguei-me a seguir caminho.

Felizmente, estou muito bem resolvida, não te desejo mal, desejo apenas que a minha vida seja sempre solta e feliz, sem qualquer sombra de ti.

E tu (que estás a ler), se já sofreste assim, faz um favor a ti mesma, exorciza essa dor e move on! 
Não é que ele não mereça, a questão não é - nem nunca deve ser ele, tu é que não mereces. 

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