Charlies e Lta.
Escrevo pouco, a meu ver, o tempo foi sempre algo que me faltou. E falta sempre para os sonhos que tenho, estes é que nunca são demais. Escrevo hoje, porque as mãos já estão ansiosas, e não consigo segurar mais. Já senti bem na pele, por escrever sobre o que sinto, escrutínio sobre o que penso, e não gostei, aliás... detestei. Repugnei. E, foram apenas estúpidas acusações com e sem remetente que, hoje honestamente não as sei citar. E ainda bem. Esqueci-as.
Não tenho consciente intenção, na primeira linha de cada texto, indubitável vontade de ofender um suposto arguente, escrevo pelo prazer que me dá e pela estúpida necessidade absoluta de o fazer, sem ainda dominar as terríveis vírgulas. Adiante.
Toda a gente agora quer ser Charlie, mas são precisos valiosos tomates para o ser!!! E além disso, uma boa dose de loucura. Arriscar a vida própria vá lá, mas por em risco pessoas que amamos com medo de represálias? Citando Che Guevara "Prefiro morrer de pé, que viver sempre ajoelhado." Porque o humor não é bem aceite quando deixa de ser fofinho, seja em que sociedade for. Eu não gosto de piadas sobre violadores e pedófilos, assim de repente são duas categorias que abomino, os motivos guardo-os para mim. Quem me conhece sabe que me rio muito, que adoro, aliás rir e fazer rir. E sim, sei rir-me de mim mesma e acho que é uma das minhas maiores virtudes, mas o campo do gozo são areias movediças onde já muitos perderam as vidas e outros continuarão a perdê-las. O que acontece é que gosto de ressalvar a liberdade de opinião e de expressão. Gosto de dizer o que penso, sabendo que mesmo quem não concorde comigo, não vai na negrura da noite atacar-me a mim e aos meus por umas palavras cuspidas no ar ou perdidas no teclado. E se eu adoro esta liberdade, devo também aceitar respeitosamente os comentários do Gustavo Santos por mais parvos que os ache, porque ele tem exactamente o mesmo direito que eu, de dizer o que pensa. O que muita gente esquece é a responsabilidade moral que fica na sombra do que foi proferido e que outros nos lembram e trazem à luz. Ou seja, sou responsável pelo que disse, escrevi e não pelo que entenderam. E aqui está a grande amálgama das complicações, porque é muito fácil surgirem mal entendidos.
Quem ganha a vida a fazer humor, ou tentar, sabe muito bem que há os chamados limites que o bom senso dita, mas posso ter os meus limites muito mais elásticos que o vizinho do lado e aqui, novamente, há margem para represálias. Ou seja, há sempre algo que falha na cadeia da comunicação, convenientemente ou não. Ainda em 2014, Bruno Nogueira sentiu a obrigação de cancelar um espectáculo para o qual havia sido convidado em Montemor-o-Novo numa praça de touros, tendo sido substituído por Aldo Lima, porque alegadamente sendo anti-touradas, foi inflamado com imensas ameaças, porque poderia incendiar com touradas fortíssimas, mas estas, por seu lado, serias apenas verbais. Assim de repente, foi o exemplo que mais rapidamente veio à memória. Mas também me lembrei agora mesmo de em 2013 a comissão organizadora do XXII Congresso da Ordem dos Médicos Dentistas ter convidado o humorista Nilton a participar na sessão de abertura do mesmo e, poucas horas depois de ser do conhecimento do público, já tinha no meu facebook um convite para integrar um grupo que o renegava, pois alegavam que as quotas trimestrais que pagamos não deviam ser utilizadas no propósito humorista, na altura, a sua presença foi considerada por alguns "um ultraje"! Ou seja, nós queremos liberdade de expressão para dizermos o que achamos ser a nossa verdade, depois julgamos a nossa verdade, mais verdadeira que a do outro; mas pior - condenamos de indicador em riste - quem diz o que nós consideramos uma barbaridade, porque não vai de encontro ao que achamos correcto, sem lembrar sequer que há na mesma mão, três dedos apontes no sentido inverso. Mesmo em direcção ao nosso grande (mas sempre pequeno) umbigo.
Isto é muito complicado, mesmo. Mas o pior, a meu ver, é nada dizer e ver a caravana a passar...
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