Especial.
Chego sempre à mesma conclusão. Só quero ser especial, para quem para mim é megamente especial. Vivemos o dia-a-dia numa proliferação de atividades mundanas, profissionais, intervaladas por situações familiares. E o tempo vai passando. Ainda no ouro dia foi Natal e já vejo este terrível Maio a lembrar-me que fico melhor de bota de cano alto, do que sandália rasa. E porquê isto de sermos especiais?
Vejo e revejo-me a tentar agradar quem mais admiro.
Não no sentido de me moldar ao que o outro tem como ideia da minha pessoa, mas sim, desejando que quem eu respeito e admiro, goste de mim pelo que eu sou, ideia pela qual eu me identifico. Ora... vejo isto na minha relação com todos, mais anda, na relação com o meu namorado. Da mesma forma, que o admiro, que o elogio e o protejo, desejo que o faça comigo. Mesmo no sentido independente da relação. Se eu preciso, vou e faço. Se ele precisa, vai e faz. Mas é sempre bom o abraço ao fim do dia, a pergunta de como correu o dia, tão ou mais importante, como o amparo que bem preciso num dia menos bom. E ele também. Mas, nos dias maus, o que sai da boca para fora... Nem sempre é fácil esquecer o que é dito. Eu tenho esses dias, como todos. Raros, mas destruidores.
Tenho bem noção do que digo, mas mais ainda do que ouço. E dói. Dói mesmo. Fico na dúvida, se aquilo foi dito na hora, porque saiu, ou se já andava a ser mastigado até ficar impossível de engolir, por estar tão seco e desencantador às papilas. E faço o meu luto. Em silêncio. Mas faço-o. Penso muito no que me foi dito, não no que dissesse, porque só me estaria a repetir. E o abraço não sai, o beijo não tem forma, a saudade desaparece. Surge a indiferença de mão dada com a solidão. Essa sacana que apanha boleia do meu carro, mesmo que eu não pare. E deixa-se ficar até eu conseguir desenvencilhar-me das suas malhas. Eu quero que me façam sentir especial, sem saber se consigo eu mesma fazê-lo sentir-se especial, como ele é verdadeiramente para mim. E quando digo ele, digo todos.
Na maioria dos casos, eu vejo por dentro e por fora. Eu vejo-o e bem sei como me sinto e o que sinto. Eu olho-o por dentro e por fora. Já ao contrário, só sei que, na maioria das vezes, sou vista por fora. E eu adoro ver-me por dentro. Quando o olhar trás o abraço, quando o beijo trás o desejo, quando o lençol traz o calor.
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